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Alganesh Fessaha

President of “Gandhi Association”, Eritrea
 biography

  

Trago o testemunho de diálogo e de paz que  estou a viver há já 5 anos no deserto do Sinai.

Sou da Eritreia e vivo na Itália há 35 anos. Desde vários anos sou chamada a qualquer hora do dia e da noite por parte de refugiados eritreus, etíopes e sudaneses que fogem dos seus países para salvarem as suas vidas e que são sequestrados durante a viagem dos traficantes.

Os refugiados quando chegam nos campos que estão no Sudão, são sequestrados por beduínos sudaneses que os revendem para os beduínos egípcios do Sinai por cerca de 3.000 dólares por pessoa. Os beduínos mantêm-nos acorrentados debaixo da terra nas proximidades das suas casas e pedem aos seus familiares um resgate, que pode variar de 30 a 50 mil dólares.

Para forçar a família a pagar o resgate, pois, torturam-nos e violam às mulheres.

Nesta situação dramática abriu-se um caminho de esperança através de uma colaboração muito significativa com um Sheik Salifita do Sinai.

Há quatro anos conheci Sheik Mohammed, porque falaram-me dele os refugiados cristãos e muçulmanos. Disseram-me: "Há um homem de religião islâmica que ajuda-nos a escapar das mãos dos traficantes. "

Fui visitá-lo, conversámos e começou um diálogo e uma cooperação pacífica para a libertação dos refugiados, sem o pagamento do resgate. Nos últimos dois anos temos libertado 480 prisioneiros das mãos dos beduínos. O Sheik todas as sextas-feiras fala às famílias dos beduínos que fizeram prisioneiros os refugiados. Diz-lhes que o Alcorão e a religião não permitem praticar a violência com as pessoas e não podem ganhar com a vida das pessoas. Mesmo eu, que sou um cristã, encontrei-me com o mesmo espírito. Espírito de coragem e de esperança. O Sheik protege-me como se eu fosse sua irmã e defende a vida dos cristãos, como se fossem seus parentes. O diálogo, o encontro entre pessoas de diferentes crenças para defender a vida dos pobres torna-nos unidos em espírito. A oração sempre acompanha minhas viagens e descubro a força da fé no encontro com os refugiados e no encontro com Sheik Mohamed. Hoje, no Sinai, o fenómeno do tráfico de pessoas foi reduzido do 30 %. Acho que podemos erradicar totalmente esse flagelo através do trabalho coletivo, através da oração, fé e Coragem da Esperança. Agradeço a Comunidade de Sant'Egidio por ter organizado estes dias de oração e de esperança, que me fortificarão no meu caminho. Na próxima semana levarei o espírito destes dias, ao Sheik Mohammed, que envia suas saudações a todos e, especialmente para a Comunidade de Santo Egidio.